Era um dia cinza, chuvoso e triste. Daqueles em que você vive no automático, sem expectativas de que grandes emoções te surpreendam durante o decorrer das horas.
Um pedacinho de mim estava estraçalhado, tentando se recuperar de um adeus que marcou meu último inverno, e o restante tentava seguir em frente. Obedecendo uma das partes, me vesti, peguei meu notebook e saí rumo a cafeteria mais próxima, com a esperança de que um machiatto me trouxesse as energias necessárias para continuar o meu trabalho.
Depois de um tempo concentrada, fitando a tela à minha frente, completamente desligada do mundo ao meu redor, finalmente ergo minha cabeça, quando o barista me entrega meu café. É neste momento em que percebo um par de olhos cor de âmbar vidrados na minha direção, como se, dentro de mim, possuísse um enigma do qual apenas eles fossem capazes de desvendar.
Uma rápida troca de olhares foi o suficiente para que o dono daquele olhar se sentisse encorajado o suficiente para se sentar comigo. Sua presença imponente fez com que qualquer questionamento que viesse à minha mente, perdesse a força e que não fosse pronunciado. E seu cheiro de fogueira de inverno me deu a certeza de que aquela tarde mudaria todo o percurso dos próximos dias.
Em minutos, estávamos imersos em uma conversa que fluiu com surpreendente naturalidade. Seu nome era Gustavo e ele era dono do sorriso mais cruel e apaixonante que já conheci.
A cada palavra que trocávamos, parecia que carregamos um peso de significados ocultos, como se estivéssemos desvendando fragmentos de nossas almas. E, naquele momento, percebi que aquele encontro estava começando a preencher lacunas que eu nem sabia que existiam.
A tarde foi passando, até que o céu cinzento deu lugar a uma noite estrelada e, foi neste momento que percebi que pela primeira vez, meu passado não assombrou a minha mente e pude experimentar algo novo me envolvendo, com um misto de nervosismo e excitação.
Nos últimos meses, havia acreditado que tudo o que o amor fazia era machucar. Mas ali, em uma quarta-feira à tarde, em um café, eu o vi recomeçar.
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