Existem pessoas que se encaixam perfeitamente em determinados momentos de nossas vidas. Como em um quebra-cabeça incompleto, elas vêm como aquelas peças perdidas, caídas no chão da sala ou escondidas no fundo da caixa, esperando serem achadas para completar a imagem e dar sentido a todo o nosso trabalho.

E, como se o universo entendesse que naquele momento eu precisava de uma fuga dos problemas que cercavam meus dias, o Daniel chegou na minha vida, com seu sorriso arrebatador e seus olhos escuros e profundos, capazes de cessar uma tempestade e acalmar um furacão.

Nossos dias seguiam um scritp. Trabalhávamos pesado durante a semana, em uma rotina intensa de horas extras e muito café para nos manter em alerta, com uma carga horária que se estendia pelo final de semana, em um lugar que durante todo o dia era verão e todas as noites eram inverno.

Mas, quando as luzes da cidade eram desligadas, o silêncio tomava conta das ruas e nossos laptops eram guardados, nosso universo particular abria suas portas, onde tudo se encaixava perfeitamente, como se tivesse sido desenhado para nós.

Depois da meia-noite, nossa aventura urbana começava. As ruas ganhavam cheiro de gasolina e sabor de vinho barato e sanduíche de esquina. Passávamos parte da madrugada dirigindo meu Mustang 1969 sem destino, com o rádio no máximo, procurando nas estações algo decente para ouvir.

Na outra parte, fazíamos questão de sentar da calça e conversar sobre tudo e, ao mesmo tempo, não dizer absolutamente nada. Vidrados um no outro, ligados por uma conexão que nunca senti com mais ninguém, como se eu estivesse exatamente onde deveria estar. Como se tudo o que importasse morasse no agora!

Daniel tinha o poder de, com um beijo, me tirar da órbita, me arrebatar da minha vida e essa sensação fazia com que eu sentisse vontade de assistir o sol nascer todos os dias ao seu lado. Nesses momentos, o futuro sempre ficava para depois e poucos minutos pareciam eternos.

Daniel sempre me dizia que nosso mundo perfeito nunca iria existir, mas eu me sentia feliz por viver nele enquanto toda aquela aventura durasse. Um jogo breve, que teve seu fim planejado pelo universo, como se ele soubesse que minha vida estava entrando nos eixos e aquele escape não seria mais necessário.

O tempo passou, as coisas mudaram e minha rotina ficou diferente, mas a nostalgia permanece sempre comigo. Por isso, resolvi gravar nossos dias juntos em uma história dedicada a você, por que não quero esquecer as noites viradas, em que o mundo era nosso, por toda a madrugada!


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